“Conhecendo o NEPEI: como o Núcleo, a partir de suas ações de extensão, contribuiu para a formação inicial e continuada dos profissionais da educação no período de 2008-2018[1]
Rafaela Melo Moreira Batista*
Iza Rodrigues da Luz**
Resumo
Este projeto, realizado no âmbito de um programa de extensão, teve como objetivo compreender e registrar as ações extensionistas do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educação Infantil – NEPEI – da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais do Brasil – voltadas à formação inicial e continuada de professoras da Educação Infantil no período de 2008 a 2018. Para isso, foram analisados documentos nos arquivos do Núcleo e realizadas entrevistas com parte dos membros da equipe, promovendo um estudo pioneiro sobre a história do NEPEI. Com o projeto, foi possível ampliar o autoconhecimento e a reflexão sobre sua trajetória e o trabalho contínuo de extensão que tem realizado na área da infância e Educação Infantil.
Palavras-chaves: Educação Infantil. Infância. Formação docente. Formação continuada. Formação Inicial.
1 INTRODUÇÃO
O presente projeto, que contou com financiamento da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais do Brasil por meio da concessão de uma bolsa de extensão, fez parte das ações do Programa de Extensão – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Infância e Educação Infantil – NEPEI, e procurou analisar, compreender e registrar as ações do NEPEI, inclusive as realizadas em parceria, como palestras, cursos e eventos, refletindo sobre como contribuíram na formação educacional dos futuros e/ou atuais educadores da Educação Infantil. Essas ações são de extrema importância tendo em vista que esta etapa da Educação Básica ainda é recente no país e que há muito a refletir sobre as especificidades da docência com bebês e crianças conforme aponta a literatura da área (SILVA, 2016; ROCHA, 2001; CAMPOS, 1999).
A formação do Núcleo, no início dos anos 2000, teve como intuito, garantir um espaço interdepartamental e interdisciplinar dentro da universidade, um elemento importante a ser considerado é que na época a formação complementar voltada para a área de educação infantil tinha sido implantada na grade do curso de Pedagogia da UFMG. O Núcleo desde o início se caracteriza então como um espaço de articulação de ações de pesquisa, ensino e extensão relacionadas à infância e Educação Infantil, tanto para as professoras e professores da universidade quanto para os estudantes e profissionais ligados à Educação Infantil, sendo que o presente projeto busca registrar parte dessa história.
Atualmente o NEPEI tem em sua equipe professoras e professores dos três Departamentos da FaE/UFMG: Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino – DMTE, Departamento de Administração Escolar – DAE e Departamento de Ciências Aplicadas à Educação – DECAE. Há também no Núcleo professoras e professores do Centro Pedagógico, Escola de Educação Básica vinculada à UFMG, da Escola de Belas Artes e da Escola de Enfermagem da UFMG.
O público alvo do Núcleo são professoras(es) e educadoras(es) de escolas públicas; gestoras(es) de políticas públicas voltadas a infância nas áreas da Educação, Saúde, Assistência Social e Cultura; pesquisadores; estudantes e demais interessados na compreensão das temáticas relacionadas à infância e seus processos de educação e direitos sociais, e especialmente no segmento da Educação Infantil. Ademais, o Núcleo tem como objetivo realizar estudos, análises e reflexões sobre a infância e a Educação Infantil visando à produção de conhecimentos e a participação na formulação de políticas públicas voltadas para crianças pequenas e sua educação, em espaços escolares e não escolares, assim como para a transformação da realidade destes sujeitos na Região Metropolitana de Belo Horizonte e no interior de Minas Gerais.
As ações de formação propostas pelo Núcleo objetivam o aperfeiçoamento dos conhecimentos docentes incluindo temáticas que não necessariamente foram vistas na formação inicial e buscam fortalecer a articulação entre os conhecimentos acadêmicos e as práticas pedagógicas para a formação continuada dos profissionais da Educação Infantil.
Considerando que não haviam registros que permitissem conhecer estas ações de formação inicial e continuada de professoras e professores, assim como não haviam documentos sobre a criação e trajetória do Núcleo, a escolha do objeto deste trabalho foi então motivada pela necessidade de iniciar um processo de construção da história do grupo de modo a possibilitar maior visibilidade às suas ações. Com as restrições de tempo e recursos o foco inicial eleito foi nas ações de extensão, visto que nesta esfera é que ainda não havia qualquer registro sistemático.
Ressalta-se assim que as informações apresentadas neste texto tem um caráter mais exploratório e descritivo por serem fruto desta iniciativa recente de construção desta memória e que temos clareza de que muito ainda há para ser recuperado e registrado sobre a trajetória do NEPEI.
2 OBJETIVOS:
2.1 Objetivos Gerais:
O presente projeto teve como finalidade compreender e registrar as ações de formação inicial e continuada de professoras e professores da Educação Infantil realizadas pelo NEPEI no período de 2008 a 2018.
2.2 Objetivos Específicos:
2.2.1: Investigar a criação do Núcleo e registrar sua trajetória de funcionamento.
2.2.2: Registrar as informações sobre as ações realizadas no período de 2008 a 2018 que tiveram como objetivo a formação inicial e continuada de professoras e professores da Educação Infantil.
3 MÉTODO:
A metodologia adotada nesse trabalho foi qualitativa, de natureza exploratória. Em um primeiro momento, foi realizada uma análise dos documentos constantes do acervo do Núcleo, localizado na sala que ocupa na FaE/UFMG e depois foram realizadas entrevistas com algumas de suas integrantes, com a finalidade de compreender a origem do Núcleo, suas ações e seu fortalecimento dentro e fora da FAE e da UFMG.
Na busca por documentos que tivessem informações sobre a história do NEPEI foram localizados dois textos sobre a criação do Núcleo: “Relatório preliminar do Projeto de Aprimoramento Discente – PAD”, datado de 2000, que consistia em um relatório sobre a execução de quatro subprojetos do Núcleo. “Construção coletiva de saberes sobre educação infantil”, “Concepção sobre Criança: retratos de criança”, “Projetos pedagógicos em Educação Infantil” e “Espaço escolar e Educação Infantil e informatização dos resultados do Programa para as escolas da rede”. Esse documento possibilitou a localização de professoras que estão no Núcleo desde o início de seu funcionamento como também os conhecimentos das ações e projetos desenvolvidos pelo grupo no ano 2000.
O outro documento encontrado foi o nomeado como: “Projeto: o núcleo de pesquisas e estudos em educação infantil da FAE/UFMG”, datado de 2002, que relatava como o Núcleo saiu de um Projeto de Aprimoramento Discente – PAD para um núcleo de estudos e pesquisas, além de contar quem eram seus coordenadores e bolsistas, seus antigos objetivos, justificativa para sua criação e metodologia que seria adotada na época.
Em relação às entrevistas, foi organizado um roteiro semiestruturado com dados prévios advindos dos documentos encontrados, para que as entrevistadas complementassem as informações encontradas e também questões que pudessem trazer novas informações sobre a criação e trajetória do Núcleo. Como não era possível entrevistar todos os membros do NEPEI tivemos como critérios o tempo de vinculação ao Núcleo e o exercício de sua coordenação. A partir disto foi feita a apresentação da pesquisa em uma das reuniões internas e o convite às professoras que atendiam aos critérios pré-estabelecidos e que tiveram disponibilidade. Foram entrevistadas então duas ex-coordenadoras do Núcleo e uma professora do Centro Pedagógico da UFMG que acompanha as ações do NEPEI desde sua criação enquanto ainda era graduanda no curso.
As entrevistadas foram as ex-coordenadoras professoras Maria Inês Mafra Goulart e Mônica Correia Baptista, e a professora Tânia Aretuza Ambrizi Gebara. A professora Maria Inês Mafra Goulart possui vínculo com o NEPEI desde 1998 e participou de toda a trajetória do grupo até os dias atuais, além de ter sido coordenadora de um dos principais cursos oferecido pelo NEPEI, o PROINFANTIL, em 2011. Atualmente é professora associada da FaE/UFMG e do Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social.
A ex-coordenadora do Núcleo, professora Mônica Correia Baptista acompanhou a trajetória do Núcleo a partir de 2002, quando entrou na FaE, e foi coordenadora do curso de especialização em Docência na Educação Infantil, sendo que está na coordenação do Projeto Leitura e Escrita na Primeira Infância desde seu início, projeto que articula ações de ensino, pesquisa e extensão e será apresentado adiante. Atualmente é professora associada da FaE/UFMG e do Mestrado Profissional Educação e Docência – PROMESTRE.
A professora Tânia Aretuza Ambrizi Gebara foi de extrema importância devido a sua participação na primeira turma do curso de Pedagogia que incluiu a Educação Infantil como habilitação e com isso participou das ações pioneiras do Núcleo, além de ter uma avaliação de como o Núcleo era visto pelos alunos de graduação. Depois de graduada participou de vários projetos de pesquisa, ensino e extensão vinculados ao NEPEI, e no ano de 2018 se tornou membro da equipe. Atualmente é coordenadora do Núcleo de Assessoramento à Pesquisa – NAPq do Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG, onde também é professora no 1°. Ciclo de Formação Humana .
4 RESULTADOS
Nesta seção apresentamos uma síntese das informações construídas durante a pesquisa articulando as informações encontradas nos documentos e as obtidas com as entrevistas. Inicialmente fizemos um rápido contexto do momento de início das ações do grupo e depois passando a descrever algumas de suas parcerias, cursos e eventos, tendo como foco o período de 2008 a 2018.
A Educação Infantil, na década de 90, vinha passando por um período de ascensão e valorização, tanto por parte do meio acadêmico, como pela sociedade brasileira como um todo. Neste contexto, em 1996, o professor Gildo Scalco, juntamente com a professora Maria de Lourdes Rocha Lima tiveram a ideia de iniciar um grupo de discussão, dentro da UFMG, em torno das questões da Educação Infantil. Vale a pena ressaltar que, no ano de 1997, a demanda pela habilitação em Educação Infantil foi reconhecida pelo MEC, acrescentando-a nas diretrizes do curso de Pedagogia, o que por sua ver ocasionou a mudança da grade curricular e fomentou as atividades de criação do Núcleo como informamos anteriormente.
Em 1998 as professoras Maria Inês Mafra Goulart e Lívia Maria Fraga se tornaram integrantes, quando o grupo tinha suas ações vinculadas ao PAD – Projeto de Aprimoramento Discente. Por meio de novo PAD – Projeto Pedagógico da Instituição Infantil: Formação Profissional do Pedagogo, à Docência e Gestão Democrática da Escola, foi criado em 2002, o Núcleo de Pesquisas e Estudos em Educação Infantil da FaE/UFMG – NEPEI. Ressalta-se que além da incorporação da Educação Infantil como escopo do curso de Pedagogia havia sido reconhecida em 1996, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996), também como primeira etapa da Educação Básica, aspecto este que intensificava a necessidade de fortalecer no âmbito das universidades a discussão sobre esta etapa.
Destaca-se que no início dos anos 2000 também havia na UFMG um Fórum de Educação Infantil, que era coordenado pela Pró-Reitoria de Extensão e buscava articular os vários projetos e ações da Universidade que tinham como foco as instituições e sujeitos desta etapa de educação, sendo que este grupo de professoras e professores do Núcleo integrava e tinha forte atuação neste Fórum.
A escolha do período de 2008 a 2018 para análise das ações de formação inicial e continuada está vinculada ao ano de registro do NEPEI como grupo de pesquisa no Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, o que ocorreu em 2008. No diretório o nome registrado foi: “Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Infantil e Infâncias”. Com esse registro tem-se mais uma ação institucional com o intuito de construir um espaço interdepartamental e interdisciplinar visando às articulações das pesquisas e projetos de ensino e extensão relacionados à infância e a Educação Infantil, dando visibilidade também à participação dos estudantes de graduação e pós-graduação orientados pelas professoras e professores da equipe.
No ano de 2017, o NEPEI também foi registrado como um Programa de Extensão, explicitando a articulação dos vários projetos e ações das professoras e professores de sua equipe. Esta foi outra ação institucional relevante e que possibilitou a construção deste trabalho. Nos anos anteriores já haviam sido registrados vários eventos e projetos de professoras e professores do NEPEI, mas ainda não havia a formalização do conjunto de suas ações como um Programa, o que dificultava inclusive a visibilidade e sistematização de suas atividades nesta esfera.
Durante esta trajetória o NEPEI firmou parcerias importantes e realizou um grande número de ações de ensino, pesquisa e extensão, sendo que abaixo serão destacadas algumas delas. Entre as parcerias, ressalta-se aqui a articulação do Núcleo com outros grupos da FaE/UFMG, como o CEALE (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita), o GESTRADO (Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente), o GEPSA (Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia histórico-cultural na Sala de Aula) e o TEIA (Territórios, Educação Integral e Cidadania).
4.1 Parcerias e projetos articulados às políticas municipais, estaduais e federal de Educação Infantil:
4.1.1 Forúm Mineiro de Educação Infantil (FMEI):
O Fórum Mineiro de Educação Infantil foi um dos primeiros a ser criado no Brasil, no ano de 1998, e faz parte do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil – MIEIB. O MIEIB caracteriza-se por ser uma organização independente, de caráter interinstitucional e suprapartidário, compromissada com a Educação Infantil, no que se refere a defender a garantia do acesso a um atendimento de qualidade para todas as crianças de 0 a 6 anos, bem como em fortalecer esse campo de conhecimentos e de atuação profissional no Brasil. Ademais, o movimento conta com reuniões anuais sendo que no ano de 2017 ocorreu na Faculdade de Educação da UFMG em parceria com o NEPEI e o FMEI. O evento foi aberto para o público interno e externo da FaE, mobilizando os futuros e atuais professores a discutir sobre as condições de oferta e acesso à Educação Infantil no Brasil.
Um dos motivos da criação do FMEI foi a necessidade de uma articulação entre universidade, municípios e ativistas para subsidiar ações visando a integração de creches e pré-escolas nos sistemas de ensino de Minas Gerais. Esta articulação impulsionou a regulamentação da oferta de Educação Infantil no âmbito do sistema estadual de Minas Gerais e dos municípios que começavam a instituir os seus próprios sistemas, tendo em vista a aprovação recente da LDB em 1996, visando construir consensos básicos expressos em carta de princípios que visa garantir a identidade deste espaço suprapartidário articulado por organizações comprometidas com a melhoria da Educação Infantil em Minas Gerais
Hoje, o objetivo central é garantir a discussão, mobilização e a divulgação de aspectos que possam promover esta política. O NEPEI integra o Fórum desde 2002, a parceria tem como um dos focos principais a colaboração no desenvolvimento de ações que contribuem para a formação inicial e continuada de profissionais da educação como cursos e eventos que ultrapassam a universidade por meio dos encontros em diferentes cidades do Estado de Minas Gerais.
4.1.2 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID Educação Infantil
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID foi implementado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior – CAPES, no ano de 2007, com vistas a fomentar a iniciação à docência de estudantes das instituições federais de ensino superior e preparar docentes para a atuação na Educação Básica.
O PIBID Educação Infantil iniciou-se em maio/2010 e continua em funcionamento. Desde seu início a coordenação contou com a participação de professoras e professor do NEPEI. No período de 2010 a 2017 a coordenação foi compartilhada pelas professoras Isabel de Oliveira e Silva e Iza Rodrigues da Luz e desde 2018 está sob a coordenação do professor Rogério Correia da Silva. O Programa funciona por meio da inserção supervisionada de licenciandas do curso de Pedagogia em uma instituição de Educação Infantil. O tempo semanal dedicado ao PIBID é dividido entre o estágio na escola, a supervisão na FAE/UFMG e estudos e planejamento das ações na escola. O trabalho de supervisão é realizado por professoras/es da FAE/UFMG (coordenadoras) e por professoras/es da escola de Educação Infantil (supervisoras/es) que acompanham as licenciandas nas horas de estágio. Nesse processo, a professora supervisora também assume um lugar de formadora das licenciandas. Todos os participantes do Programa – estudantes de licenciatura, professores universitários e professores da Educação Infantil – recebem uma bolsa para o desenvolvimento de suas atividades.
Ao longo de sua existência o PIBID possibilitou o incremento da formação inicial de várias licenciandas do curso de Pedagogia e a formação continuada de professoras da rede municipal de Belo Horizonte e também o fortalecimento da parceria entre a Universidade e as escolas de Educação Básica.
4.1.3 Leitura e Escrita na Primeira Infância (LEPI):
Tendo em vista a urgência em se aprofundar a discussão e buscar melhor compreender a função da Educação Infantil no aumento das experiências infantis relacionada às linguagens oral e escrita, o Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil surge, priorizando, a formação das professoras. Entretanto, da mesma forma, se avaliava que uma proposta de formação deveria resultar de um amplo debate e um aprofundamento teórico sobre a relação entre Educação Infantil, oralidade, leitura e escrita.
Durante o desenvolvimento do Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil, buscou-se dialogar com as demais ações e produções da Coordenação Geral de Educação Infantil (COEDI) do Ministério da Educação (MEC). O Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil extrapolou os limites de uma pesquisa acadêmica e de uma proposta de formação de professores, tendo em vista que o projeto iniciado em 2008 mantém ações até hoje. Desde seu início contou com a participação de professoras do NEPEI, sendo que durante a etapa de pesquisa nacional da temática as professoras Mônica Correia Baptista e Vanessa Ferraz de Almeida Neves estavam na coordenação das ações na UFMG.
O alcance dos debates que promoveu e a participação em diferentes espaços públicos de formulação de políticas educacionais, como por exemplo, a elaboração da Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil, a formulação de diretrizes para a constituição de acervos de livros para crianças de zero a seis anos, imprimiram, ao grupo de coordenação e aos inúmeros pesquisadores que dele participaram, um papel central de agentes políticos. Além disso, fortaleceram o tema da oralidade, leitura e escrita na Educação Infantil como um campo de pesquisa e de atuação política na defesa dos direitos das crianças pequenas a uma educação de qualidade.
O projeto nos anos de 2018 e 2019 promoveu um curso de formação para professoras com a utilização de material produzido pelo projeto como produto de pesquisa nacional sobre a temática, destinado às professoras da rede municipal de Belo Horizonte, sob a coordenação da professora Monica Correa que é membro do NEPEI.
Além disso, o projeto publicou um material didático do Curso “Leitura e Escrita na Educação Infantil” que tem como objetivo a formação de professoras da Educação Infantil para que possam desenvolver, com qualidade, o trabalho com a linguagem oral e escrita, em creches e pré-escolas. Essa Coleção é constituída por oito cadernos, sendo que os textos foram escritos por diferentes autores, permitindo uma ampliação do diálogo sobre teorias e práticas que informam e dão concretude ao trabalho docente. O material está disponível no site do projeto informado neste trabalho.
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¹ No site http://www.projetoleituraescrita.com.br é possível encontrar online, toda a coleção disponível, além de encontrar também a história do projeto, suas ações como seminários, pesquisas, divulgações.
4.2 CURSOS:
4.2.1 Proinfantil:
O curso foi fruto de um programa desenvolvido pela União, em parceria com Estados e Municípios, correspondendo a cada ente federado diferentes responsabilidades conforme definidas nas Diretrizes Gerais do Programa e estabelecidas em um Acordo de Participação que foi assinado pelas três instancias envolvidas, sendo ofertado no ano de 2011.
Esse projeto teve caráter semipresencial de formação em nível médio, na modalidade Normal, emergencial, e foi oferecido para professores em exercício nos sistemas municipais e estaduais de ensino com duração de 2 anos num total de 3.392 horas. O curso conferiu diploma para profissionais em exercício na Educação Infantil, que atuavam em creches e pré-escolas da rede pública e da rede privada sem fins lucrativos (filantrópicas, comunitárias ou confessionais, conveniadas ou não) e que não possuíam a formação exigida pela legislação vigente.
Seus objetivos gerais foram: habilitar em magistério para a Educação Infantil (EI) os professores em exercício, de acordo com a legislação vigente; elevar o nível de conhecimento e aprimorar a prática pedagógica dos docentes; valorizar o magistério oferecendo condições de crescimento profissional e pessoal do professor; contribuir para a qualidade social da educação das crianças com idade entre 0 e 6 anos nas Instituições de Educação Infantil (IEI).
[…] As professoras cursistas […] identificaram maiores contribuições para a sua formação profissional do que para o aperfeiçoamento da prática pedagógica. Considerando o universo das contribuições para a formação profissional, constatou-se que a ampliação de conhecimentos foi a mais citada (37,05%), seguida da competência/ consciência profissional (18,35%) e da segurança/autoestima (12,95%). (Goulart et al. 2012, p.9)
Na UFMG, o curso foi coordenado pela professora Maria Inês Mafra Goulart e propiciou 270 titulações no ensino médio para professoras cursistas, além da formação de 34 tutoras e de 18 professoras formadoras. Ademais, foi a partir das verbas de administração do curso que o Núcleo conseguiu uma melhoria na sua estrutura física possibilitando a compra de mobiliário que permanece até hoje.
4.2.2 Curso de Aperfeiçoamento em Educação Infantil (CAEI):
A oferta dos Cursos de Aperfeiçoamento se consolidou a partir da parceria entre as instituições públicas de Ensino Superior, o Ministério da Educação e 29 municípios mineiros, conforme informações das diretrizes para a formação continuada no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) que foram incorporadas na esfera da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica. Sua criação teve como finalidade fundamentar a formação inicial e continuada dos professores das redes públicas da Educação básica, além de garantir para os profissionais uma formação que atendesse as especificidades da educação de crianças de 0 a 6 anos.
Dessa forma, em 2013, o Núcleo foi convidado pelo MEC para participar desse projeto como ofertante de Cursos de Aperfeiçoamento com carga horaria de 180 horas. Esta oferta foi coordenada pelo professor Rogério Correia da Silva, contando em sua equipe com professoras e professores do NEPEI, entre eles Ana Cristina Carvalho Pereira, Levindo Diniz Carvalho, Ricardo Carvalho de Figueiredo e Tânia Aretuza Ambrigi Gebara. Esse período foi de extrema importância tendo em vista que a partir do curso, o NEPEI fortaleceu parcerias com professores de outras unidades da UFMG, bem como com outras Universidades que desenvolviam experiencias de formação de professores de Educação Infantil, dentre essas parcerias estão a Escola de Belas Artes/UFMG e o Departamento de Ciências da Educação – DECED da Universidade Federal de São João del Rei.
A partir dessa articulação foram ofertados três cursos diferentes, voltados para a formação continuada de professores da Educação Infantil: Currículo, Planejamento e Organização do trabalho pedagógico da Educação Infantil; Educação Infantil, Infâncias e Artes e Campos de Experiências; Saberes e ação pedagógica da Educação Infantil. Os cursos foram presenciais e com carga horária de 180 horas, e a equipe de cada curso foi responsável pela oferta de duas turmas ao longo de três anos, totalizando 6 turmas. Foram formadas 90 educadoras de diferentes cidades do estado.
Ao longo da primeira e segunda oferta, as equipes pedagógicas dos três cursos promoveram ações conjuntas de integração dos professores cursistas, formadores e convidados, criando espaço para o relato e reflexões sobre a proposta desenvolvida nos cursos. A primeira ação foi desenvolver seminários integrados que, em suas duas ofertas, contaram com palestras que envolviam a formação de professores da Educação Infantil, oficinas e minicursos.
A segunda ação ocorreu no final das primeiras ofertas dos cursos. Tratou-se de um seminário de avaliação, no qual os coordenadores dos três cursos expuseram a proposta e a metodologia desenvolvida em cada curso, contando com a participação de um consultor externo reconhecido pela experiência na formação docente na Educação Infantil, o Instituto Avisalá. A terceira foi a publicação do livro “Entrelaçando Experiências: possibilidades de aperfeiçoamento profissional na Educação Infantil” que conta a reflexão e a experiência dos professores do curso (SILVA et al., 2015).
4.2.3 Docência na Educação Infantil:
O curso de especialização ofertado nos anos de 2012 e 2014, com parceria do Ministério da Educação, tinha como objetivo oferecer especialização para os profissionais das áreas de Pedagogia e Normal Superior, para professores e gestores da rede pública que tinham concluído o curso de Pedagogia ou Normal Superior e que estivessem atuando há pelo menos três anos na área de Educação Infantil, sendo 90% das vagas destinadas a professores e 10% a gestores públicos.
O curso que resultou em mais de 80 professoras formadas oferecia formação em pós-graduação Lato Sensu, e foi coordenado pela professora Monica Baptista e pelo Professor Ademilson de Sousa Soares – membros do NEPEI – contando com disciplinas que abordaram vários temas como políticas de Educação Infantil; Currículo, proposta pedagógica e planejamento e gestão do espaço e do tempo em creches e pré-escolas; e Brinquedos e brincadeiras no cotidiano da Educação Infantil. Totalizando 360 horas. Além disso, o projeto contou com a produção de monografias pelas alunas do curso com temáticas abordadas durante a formação.
4.3 Eventos:
O Núcleo é reconhecido no estado, principalmente pelos seus seminários que buscam a discussão e a elaboração de propostas de intervenção nas práticas educacionais e políticas, tomando-se como referência o desafio de incluir a infância nos processos culturais e sócio históricos da sociedade contemporânea.
Esses eventos envolvem temas como discussões, debates e diálogos acerca da inclusão de crianças com deficiência, relações étnico-racias, relações de gênero, concepções sobre cuidar e educar, relação da arte com a educação infantil, concepções sobre o brincar dentro das escolas, dentre outras temáticas relevantes para a compreensão das infâncias e que circulam dentro das escolas de Educação Infantil.
Parte desses eventos são advindos da parceria entre o FMEI e o NEPEI que desde 2008 tem sido concretizada principalmente por meio de eventos contínuos de extensão nomeados “NEPEI/FMEI convidam”. Os eventos abertos à comunidade promoveram várias palestras, conferências e mesas contando com a participação de convidadas e convidados de outras universidades, ligados à gestão municipal, estadual e federal e também às demais instituições que tem a infância e a Educação Infantil como escopo de trabalho. Promovem assim tanto o fortalecimento da parceria entre a universidade e a comunidade como momentos de formação continuada para todos que deles participam.
Ademais, o Núcleo também conta com o evento nomeado “NEPEI Pesquisa” que une a pesquisa e extensão em torno da temática infância e Educação Infantil tendo como seu maior público alvo a comunidade interna da UFMG como alunos de graduação e pós-graduação.
6 CONCLUSÃO:
Essa construção do percurso do Núcleo marca uma reflexão de diferentes tempos e espaços, os quais se articulam com as lembranças de parte de seus membros em torno das experiências na formação inicial e continuada dos profissionais da Educação Infantil. As ações do NEPEI evidenciam um investimento em experiências diversas de formação que visam auxiliar um melhor entendimento de como a criança interage com seus pares e com os adultos, podendo esses conhecimentos subsidiar os processos educativos.
A construção da identidade profissional se inicia durante o período de estudante nas escolas, mas se consolida logo na formação inicial e se prolonga durante todo o seu exercício profissional. Essa identidade não surge automaticamente como resultado da titulação, ao contrário, é preciso construí-la e modelá-la. E isso requer um processo individual e coletivo de natureza complexa e dinâmica, o que conduz à configuração de representações subjetivas acerca da profissão docente. (Garcia, 2010, p. 18)
Tendo como referência o registro das informações construídas com o projeto e que não abrangem todas as ações do NEPEI, é possível afirmar que o Núcleo contribuiu de forma intensa e sistemática na formação inicial e continuada dos educadores. Por meio de suas parcerias, cursos e eventos, as ações do NEPEI têm constituído espaços plurais e democráticos, nos quais se discute sobre as práticas educacionais e políticas, buscando assegurar os direitos dos bebês e crianças e o desafio de incluir e dar visibilidade a estes sujeitos nos processos culturais e sócio históricos da sociedade contemporânea.
Ressaltamos, como dito anteriormente, que esta primeira sistematização certamente poderá ser ampliada e mesmo retificada com a possibilidade de novos estudos que auxiliem na construção da trajetória do NEPEI. Considerando a relevância das ações aqui registradas, evidencia-se a potência da articulação das ações de ensino, pesquisa e extensão e a importância da universidade pública no Brasil como instituição capaz de propiciar este encontro.
Referências:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.
CAMPOS, M. M. A formação de professores para crianças de 0 a 10 anos: modelos em debate. Educação e Sociedade, ano XX, n. 68, p. 126-142, dez. 1999.
GARCIA, C. O professor iniciante, a prática pedagógica e o sentido da experiência. Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação Docente. Belo Horizonte, v. 02, n. 03, p. 11-49, ago./dez. 2010.
GOULART, M. I. M.; Guimarães, Marília Barcellos; MEDRADO, J.; PIARANGELI, Thays. Perfil do professor cursista do Proinfantil: o caso de Minas Gerais. 2012. (Apresentação de Trabalho/Comunicação).
LAROSSA, J. Notas Sobre a Experiência e o Saber de Experiência. Revista Brasileira de Educação. N. 19, 2002, P. 20-28.
ROCHA, E. A. C.l. “A pedagogia e a Educação Infantil”. Revista Brasileira de Educação, no. 16, pp. 27-34, 2001.
SANTOS, L. Dimensões pedagógicas e políticas da formação continuada. Revista Tessituras. Belo Horizonte: PBH – SMED – BH-SMED, 1998.
SILVA, I. O. E. (Org.); LUZ, I. R. (Org.); GOULART, M. I. M. (Org.). Crianças, professoras e famílias: olhares sobre a Educação Infantil. 01. ed. Belo Horizonte/MG: Mazza Edições, 2016. v. 01. 200p
SILVA, R. C.; AMBRIZI, T. A. G. (Org.); PEREIRA, A. C. C. (Org.) ; CASTILHO, C. (Org.) . Entrelaçando experiências: possibilidades de aperfeiçoamento profissional na educação infantil. 1. ed. Belo Horizonte, 2015.
SILVA, I. O. A educação infantil no Brasil.Pensar a Educação em Revista, v. 2, pp. 3-33, 2016. Recuperado a 25 de Julho de 2018 em http://pensaraeducacaoemrevista.com.br/2017/03/29/educacao-infantil/
Financiamento:
O presente projeto foi financiado pela Pró-reitoria de Extensão da UFMG através de uma bolsa de extensão para a aluna graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais, no período de 07/03/2018 à 28/02/2019, com uma carga horária de 20 horas semanais, sob a orientação da Professora Iza Rodrigues da Luz.
Destacamos também todo o suporte da Faculdade de Educação durante a realização da pesquisa e também no financiamento da participação da primeira autora no Congresso.
Agradecimentos:
Para a realização da pesquisa que possibilitou a produção deste trabalho contamos com a colaboração de várias pessoas às quais agradecemos:
Aos professores e membros do NEPEI que ofereceram suporte material e teórico para a construção de uma linha do tempo sobre a trajetória do Núcleo, concedendo entrevistas e documentos sobre as ações desenvolvidas ao longo dos anos.
À FaE/UFMG e ao NEPEI, pelo suporte material e físico que possibilitou a execução das tarefas de administração, planejamento, acompanhamento e análise das informações construídas nas pesquisas.
A Pró-reitoria de Extensão pelo apoio financeiro que possibilitou a realização da pesquisa por meio da bolsa de Extensão.